A Igreja Católica no Brasil lança todos os anos, por ocasião da quaresma, a chamada Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2014 o tema escolhido foi o tráfico humano.
Aproveitando o ensejo, gostaria de apresentar alguns números sobre o assunto e abrir um momento de debate sobre o tema.
A liberdade é o dom natural mais importante de que um ser humano é dotado. Privada deste inestimável benefício, a pessoa humana se vê incapaz de realizar plenamente sua própria essência.
Infelizmente, é nesse lamentável estado de vida que se encontram dezenas de milhares de pessoas por todo o mundo. No Brasil, um grande número de pessoas é aliciado e, na esperança de uma evolução na qualidade de vida, cai nas garras da escravidão. A grande maioria é exportada sobretudo para países da Europa onde se tornam vítimas da organizada e sistemática exploração sexual.
Outra parte faz-se vítima do tráfico interno entre os estados brasileiros.
Além da exploração sexual, muitos são vítimas do trabalho forçado, no qual são cerceados os mínimos direitos do trabalhador.
Segundo um relatório recente, somente nos países da União Europeia, vivem cerca de 140 mil mulheres vítimas do tráfico humano e que servem aqueles que procuram o mercado da exploração sexual, conforme indica o site "Viva Pernambuco". São feitas 70 mil novas vítimas por ano.
Este negócio é tão cruel quanto lucrativo para as organizações criminosas que se atiram neste "mercado". Veja só: A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que estas 140 mil mulheres traficadas, em condições de servidão, façam, juntas, cerca de 50 milhões de programas sexuais por ano, a um valor médio de 50 euros cada. No total, isso representa um lucro anual que atinge 2,5 bilhões euros, ou seja, o equivalente a R$ 5,5 bilhões.
Os dados se referem apenas à Europa Ocidental e mostram que a maior parte das pessoas traficadas vem de regiões vizinhas, como os Bálcãs (32%) e países da antiga União Soviética (19%). A América do Sul aparece em terceiro lugar de origem das vítimas, com representatividade de 13%. Segundo o relatório, é cada vez mais crescente o número de brasileiras traficadas. Em seguida, aparece a Europa Central com 7%, África, com 5% e Leste Asiático com 3%.
A estimativa de mulheres traficadas na Europa foi levantada pela ONU com base no número de 7.300 vítimas detectadas na Europa Ocidental em 2006. De acordo com a Organização, 1 em cada 20 vítimas seria detectada, chegando, então, ao total de 140 mil mulheres. O relatório indica que as novas 70 mil vítimas anuais, expressam a rotatividade e o movimento do tráfico de pessoas, e explica que elas substituem aquelas que conseguiram se livrar do crime organizado, abandonando sua antiga condição ou, ainda tenham se transformado em novas aliciadoras.
Tráfico em Portugal - Já o Relatório Anual de 2009 do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, do Ministério da Administração Interior de Portugal, revelou que 40% das mulheres vítimas do tráfico humano em Portugal são brasileiras. Baseado em 85 casos identificados em 2009, o estudo apontou que a maioria dessas mulheres originárias dos estados de Goiás, Minas Gerais e dos estados do Nordeste.
Para o diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal, Manuel Jarmela Paulus, o alto índice de brasileiras entre as vítimas está relacionado apenas ao número expressivo da comunidade brasileira em Portugal - com 100 mil pessoas, ou seja, mais de 20% do total de imigrantes no país. Segundo ele, o Serviço de Estrangeiros está trabalhando em parceria com autoridades brasileiras para combater o tráfico de seres humanos nos dois países.
O relatório de Segurança Interna português também especificou algumas características sobre os traficantes e aliciadores. Geralmente são de nacionalidade portuguesa, romena, brasileira, ucraniana e eslovaca, e para conquistar a vítima, oferecem propostas de trabalho com falsos benefícios.
A dica, portanto, para não cair nas mãos de traficantes de seres humanos é não acreditar em propostas de dinheiro fácil, seja em outro estado brasileiro, seja em outro país. Como é dito naquele velho ditado: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". Desconfie de propostas de dinheiro muito fácil. A regra é sempre esta: não existe mágica; para se ganhar um bom dinheiro tem trabalhar muito. A não ser que se acerte na loteria.